Técnicas de mindfulness ajudam amenizar a ansiedade e o pânico sem sair de casa.

Viver o medo da pandemia do Coronavírus e ficar em isolamento social podem ser tarefas difíceis para quem sofre de ansiedade e síndrome do pânico. A boa notícia é que, durante esse período complexo, há opções eficazes para garantir melhor qualidade de vida para as pessoas que apresentam os transtornos.

Na minha prática clínica, o número de pessoas que procuram ajuda terapêutica aumentou absurdamente desde o início da pandemia. E a situação deve se agravar ainda mais: “Se antes da Covid-19 já vínhamos acompanhando uma verdadeira revoada de pessoas com transtornos graves de ansiedade e pânico indo buscar ajuda – seja do atendimento psiquiátrico em busca de medicamentos, seja do psicólogo para o trabalho terapêutico – agora com esse caos instalado, tudo tende a piorar muito.”

Para quem está aflito e não sabe o que fazer nesse momento ou não tem recursos, buscar caminhos alternativos pode ser a solução. Um bom exemplo é a prática de técnicas de mindfulness que as pessoas podem fazer em casa.  O meu projeto Todo Dia Bem é uma espécie de hub de técnicas voltadas para a ansiedade, cuidadosamente pensadas para a terapêutica necessária à amenização das crises.

As técnicas de mindfulness, aplicadas de forma terapêutica – e não isoladamente apenas para aliviar as crises – podem ajudar na amenização da ansiedade e do pânico trabalhando as estruturas que a sustentam.

Diagnosticada com transtorno de ansiedade generalizada (TAG) há 3 anos, Fernanda sofre com o medo de doenças. Em casa com a família, cumprindo o isolamento social, sente-se de certa forma protegida. Porém, sua mente não consegue parar nem por um minuto de pensar:  “E se eu me contagiar, o que farei? E se eu precisar ir para hospital e não tiver leito para mim? E se o meu dinheiro acabar? E se alguém da família morrer?”, questiona incansavelmente.

Fernanda não só não consegue parar de pensar nisso, como tem certeza que a resposta para essas perguntas é a pior de todas. São os pensamentos catastróficos. Ela passa o dia transitando pela casa, fazendo tarefas na casa, conversando com as pessoas. Mas sua mente não desliga, nem por um segundo, nem enquanto dorme. Tem pesadelos com a morte, com a doença. Acorda na madrugada em pânico, angustiada, cansada e ruminando sem parar. Fica o dia inteiro verificando os sintomas mentalmente. A cada micro mudança, ela sente um gelo imediato e já corre para medir a febre. Em alguns momentos do dia, isso se acentua e ela começa a piorar. E sem que ela tenha o menor controle sobre isso, ela tem uma crise de ansiedade. Seu coração dispara, começa a faltar ar (e obviamente ela já acha que é do vírus), tem náusea, vômito e tontura. Desesperada, tenta acalmar a mente. Ela sabe que está tendo uma crise de ansiedade – porque já teve muitas e muitas vezes antes – mas não consegue conter. A família não consegue acalmá-la, assim como ninguém mais consegue. Fernanda se recolhe, deita-se. A família toda em volta tentando tranquilizá-la. 40 minutos depois consegue se acalmar e a crise passa.

O caso de Fernanda é exemplo do mundo de um ansioso disfuncional: um mundo de medo constante e em níveis difíceis de administrar. Muitas vezes confundido com pessimismo ou exagero, esse tipo de ansiedade gera um quadro mental que ronda o tempo todo a mente, sempre em torno do catastrofismo e do pavor de que algo ruim venha acontecer: “A pessoa é incapaz de se conectar com a realidade de forma racional. Não é uma escolha. É uma inabilidade neurológica e psíquica”.

Com a realidade desse indivíduo hoje, de uma catástrofe iminente, o nível de alerta na mente de um ansioso disfuncional aumenta muito, fazendo com que ele sinta a iminência do pior ainda mais presente.  Herber explica: “Seu corpo fica em alerta o tempo todo, jogando cortisol no sistema e a consequência disso é um medo assombroso e sintomas físicos muito desconfortáveis. Além disso, a pior consequência de todas é a queda da imunidade”. Preocupado em fugir de um perigo iminente, o cérebro “escolhe” trabalhar para achar saídas para essa problemática e estabelece prioridades. É como se entrasse num ‘modo de segurança’ do Windows, atuando em baixa performance”, afirma.

Fernanda amenizou as crises de ansiedade por meio das técnicas de mindfulness. As práticas têm um efeito muito expressivo na diminuição dos sintomas e na dissolução da estrutura neuropsicológica que se configura em pessoas com ansiedade e síndrome do pânico. Muitos estudos comprovam a eficácia da Terapia Cognitiva e de Mindfulness e seu impacto na diminuição de produção do cortisol e consequentemente diminuição e apaziguamento dos sintomas:

Quando o paciente se submete a um tratamento com uma abordagem que inclui essas práticas ou a meditação, os resultados são muito expressivos. Dou alta para pacientes toda a semana, praticamente. Pacientes que fazem no mínimo 3 meses do tratamento”

Mas não adianta sair meditando ou fazendo mil técnicas por aí. Não se trata disso. É preciso acessar o mindfulness terapêutico:

“São as técnicas aliadas a um bom conhecimento da psicodinâmica da ansiedade e à uma estratégia terapêutica clara e objetiva. Não tem como não funcionar se isso for seguido”.

Aliado ao processo terapêutico, o acolhimento da família também é muito importante para quem sofre com esses problemas. Mas muitas vezes a família não tem a menor ideia do que está acontecendo. Ou se desesperam ou minimizam o problema. Em nenhum dos extremos está a verdadeira ajuda.

É função dos profissionais da saúde mental passar a orientação de como agir para verdadeiramente socorrer um paciente com ansiedade patológica. E não se trata de acalmá-lo, também não vai resolver: “Acolher os vulneráveis como eles estão não deve servir apenas para que nos sintamos melhor, mas para que eles se sintam protegidos e passem por isso no seu próprio ritmo e tempo, com os seus próprios recursos”, afirma.

Além da família aprender a ser um refúgio e acolher, o próprio ansioso pode aplicar ferramentas para sair da ruminação mental. Mas a questão é que ele precisa ser ensinado; ele precisa aprender a fazer isso porque obviamente ele não sabe. Não depende só de força de vontade.

Para que as pessoas possam acessar os conteúdos e técnicas produzidas, basta entrar navegar pelos cursos oferecidos aqui no site ou entrar no canal do youtube e explorar os conteúdos gratuitos.