As 3 Possíveis Causas Para o Medo de Morrer

 

Se você passa a maior parte do seu dia, do seu tempo, da sua vida pensando em doença ou morte…

Ou então você fica apavorado com qualquer alteraçãozinha que acontece com você?

Você fica “micro gerenciando” o seu corpo e logo corre para o médico, ou para o Dr. Google para saber o que está acontecendo?

Então este artigo é para você!

Neste artigo eu vou te mostrar as três causas desse tipo de ansiedade e também a minha opinião profissional sobre o que deve ser feito para que isso seja tratado.

Também vou falar a minha opinião pessoal, porque eu também passei por isso e me livrei completamente dessa coisa horrorosa que é o medo de doença e medo de morrer.

Não saia daí que aqui tem respostas muito interessantes para você!

 

A Ansiedade e o Medo de Morrer

 

Eu costumo dizer que quando aparece uma verruga no dedo do ansioso ele já acha que é um câncer de pele, quando o olho pisca de um jeito é AVC e isso eu sei muito bem como é.

Não dá para banalizar esse tipo de coisa, porque ninguém dá bola, ninguém nos ouve…

Só a gente sabe o quanto ficamos apavorados com isso… Eu sei principalmente porque eu passei por isso também…

Então se cria essa necessidade de ficar monitorando, buscando garantias de que tá tudo bem, porque a ideia de que alguma coisa vá dar errado é extremamente inadministrável para o ansioso…

Ele se desespera e ninguém consegue entender isso… É difícil de explicar também, mas as pessoas de uma certa forma são muito cruéis com isso e acabam achando que é frescura e a gente já sabe o que tá por trás disso.

Então eu quero falar hoje sobre 3 possíveis causas que estão, digamos assim, permeando os tipos de transtorno.

Eu diria para vocês que o mais comum no consultório, “é batata”, chutando por alto 90% dos ansiosos que chegam no consultório tem medo de doença e medo de morrer. 

Por que isso acontece?

Nos casos de ansiedade mais grave em que o paciente tem crise, o desconforto físico é extremamente grande…. A crise é uma mensagem de morte iminente para o cérebro.

Para o cérebro aquilo é muito real, porque o cérebro não consegue interpretar se o medo de morrer é real ou não. Para ele a informação é a mesma, ele só discrimina e emite uma resposta.

Então quando isso acontece acaba se criando um trauma no ansioso e ele tem medo de que isso aconteça de novo…

E qualquer sinalzinho de que uma coisa não tá bem no corpo, ele já acha que vai morrer e corre para o médico, ou para o Dr. Google, e tenta conter isso.

Mostrando assim sinais de uma resiliência baixíssima, uma capacidade quase nula de tolerar o sofrimento.

É um trauma que se fez e que liga o sistema de alerta no indivíduo. É também uma dificuldade de lidar com o desconhecido, o que leva à necessidade de controle para buscar garantias.

Essas são as estratégias de enfrentamento ansioso!

E o que faz isso acontecer? Por que a gente fica com tanto medo de doença?

Existem três coisas por trás disso…

 

A Primeira Causa

 

Em primeiro lugar tem uma crença que se chama: “Vulnerabilidade ao dano e a doença”

O que isso quer dizer? 

Isso quer dizer que o ansioso acredita 100% que algo terrível vai acontecer, ele não vai conseguir impedir e ele vai sofrer muito.

Então “Algo terrível vai acontecer”, desconhecido.

“Eu não vou conseguir impedir”, ou seja, eu não vou ter controle sobre aquilo.

E em terceiro: “Eu vou sofrer muito se isso acontecer”, baixa resiliência.

Anote isso: Esse é o mecanismo por trás do medo de doença, do medo de morrer e de outros medos também.

“Algo terrivel vai acontecer” ➙ “Eu não vou conseguir impedir” ➙ “Se acontecer eu vou sofrer muito.”

E o ansioso tem certeza dessa equação, ele vive para tentar controlar e evitar que isso aconteça.

E o que aumenta essa crença é a percepção, ou seja, uma auto-imagem de que o ansioso é muito fraco para aguentar isso.

Que é a baixa resiliência…

Essa crença surge quando a gente é criança e temos uma necessidade de sermos protegidos pelos nossos pais.

Só que essa necessidade não foi suprida, ou seja, um dos pais, ou os dois, ou os cuidadores… Não importa…  Também tinham esse medo, expressavam ele frequentemente se mostrando frágeis de uma forma catastrófica, de uma forma medrosa.

Eles mesmo sentiam isso, não necessariamente com doença, eles poderiam expressar esse medo e essa crença de que algo terrível vai acontecer.

Podem ser coisas mais simples como: 

“Não sai na rua que você vai ser assaltada” 

“Não faz isso que é perigoso”

E esse tipo de coisa…

Então há sempre uma ameaça rondando a cabeça da criança.

 

A Segunda Causa

 

Em segundo lugar, o que origina esse tipo de crença são os pais superprotetores, são os chamados “Pais Helicópteros”.

Eles vivem sobrevoando a criança e eles intervêm em nome dela quando algo perigoso se esboça.

Então eles não deixam a criança criar os recursos sozinha para se proteger, eles protegem a criança de tudo.

São as famosas as crianças mimadas, as crianças que não ouvem “não”, também as crianças que os pais fazem tudo por elas, a criança não serve um copo d’água, não consegue sair na chuva que acha que o mundo vai acabar…

São os filhos dos pais superprotetores…

E eu sempre falo que esse perfil de pais acaba aleijando a criança emocionalmente… Porque não estimula que ela desenvolva as habilidades, os recursos próprios para se virar. 

Quando ela vai para a vida adulta, ela não sabe se proteger e, óbvio, quando surge a possibilidade de uma doença ou até da morte, a possibilidade da nossa finitude, ela se apavora e não tem recursos para reagir a isso.

Então essas crianças vão virar adultos que não sabem ter autonomia para as coisas, que não vão conseguir resolver os próprios problemas e vão se sentir vulneráveis de uma forma muito disfuncional, porque os pais não estão ali para fazer esse papel e daí vem então os medos de doença e de morrer.

Em segundo lugar, a gente foi criado numa cultura em que ser fraco é ruim, ser vulnerável é ruim e sofrer é a pior coisa que pode acontecer.

Existe um modelo de felicidade que contempla somente as emoções positivas.

Então é quase como eu falar: “É proibido sofrer”. E ter uma doença é uma coisa incabível, a morte então nem se fala

E a gente tem uma ideia de finitude que é muito fantasiosa… Na nossa cultura a gente tem uma educação na infância que não nos prepara para essa ideia de sofrer e para a ideia da morte…

Nem para a ideia da perda, você não consegue ter dentro da família um consolo para as perdas, não é esse o discurso. 

É quase algo insuperável dentro das famílias…

“Não quero nem pensar se um dia eu perder meus pais”

“Se um dia eu perder uma pessoa da família.”

Então esse é o slogan do nosso modelo emocional na nossa cultura. Eu não quero pensar, eu não quero sentir, eu não quero falar sobre isso, ou seja, a gente entra em negação, é um mecanismo de defesa e isso é muito ruim!

Nós não fala sobre isso, quando pensamos sobre isso nós mudamos de assunto, ou então “a moda” do ansioso: Tem uma crise, entra em pânico e fica ruminando isso durante uma semana.

Então a educação emocional que nós recebemos não nos prepara para sentir coisas ruins, para sentir essas coisas: medo, raiva, frustração.

Se uma criança se frustra e chora, ela é punida por isso, temos muitos exemplos disso…

Então não nos ensinaram a nos proteger das coisas ruins, mas nos ensinaram a fugir delas!

Nós ficamos assustados com elas… E por isso a não nos expomos, ficamos fugindo.

Pensar incessantemente em doença é uma forma de controle de tudo aquilo que mais tememos e é uma estratégia de buscar uma garantia de que isso não irá acontecer…

O ansioso é muito bom nisso, ele é mestre em fugir e criar estratégias para garantias.

Então, ao contrário do que o ansioso pensa, isso não é premonitório. É uma espécie de toque de verificação que inclui a busca pelo Dr. Google.

As pessoas nem percebem que estão com TOC… Qualquer sinalzinho de doença, de uma mancha na pele, ela já corre para o Google e entre isso, um toque de verificação e uma ansiedade mais severa existe uma linha muito tênue.

 

A Terceira Causa

 

Em terceiro lugar, a principal causa desse tipo de ansiedade, é que nós não aprendemos a reconhecer as nossas fraquezas…

Então quando chorávamos de medo quando era criança, todo mundo dizia assim: “Ah, não chora”, “Tá tudo bem”, “Não precisa chorar”, “Não foi nada” e isso é invalidar aquilo que estamos sentindo não é reconhecer o sofrimento emocional do outro.

O único reconhecimento que a gente tem é quando a nossa saúde do corpo vai mal…

Se você fala que tá meio chateado e meio ansioso, ninguém dá bola.

Se você fala que está se sentindo com algum problema no corpo, todo mundo dá atenção. Então quando a gente tá mal emocionalmente ninguém nos acolhe, sempre é menos grave.

Então, por exemplo, se uma pessoa pede licença do trabalho porque pegou o covid, ou qualquer outra doença, quando ela retorna para o trabalho todo mundo pergunta: “E aí, como é que foi?”, “Melhorou?”, “Precisa de alguma coisa?”,“Conta comigo!”, etc…

Agora se você tirar a licença porque tem ansiedade, primeiro que você não vai nem falar que é por ansiedade, você vai mentir lá no RH e não vai dizer que é ansiedade…

Mas digamos que você falou que é ansiedade, ou burnout, ou depressão, etc.

Quando você voltar…  Ninguém vai perguntar…

Parece que é constrangedor perguntar. Parece que é indelicado perguntar isso e na verdade porque as pessoas não estão nem aí mesmo e você que passa por doido.

Então é um assunto tabu e talvez você tenha o medo de doenças como uma forma de obter o apoio que você precisa, muito embora quem convive com pessoas que têm medo de doença também passa a entender que isso é meio fake, que você tá fingindo…

O fato é que não tem amparo… O amparo é muito escasso, é muito pobre e a gente é muito criticado por isso…

Eu passei por isso, eu sei as nuances disso e eu não tinha com quem compartilhar e hoje eu não tenho mais isso…

Eu diria que o principal trabalho que precisa ser feito para derrubar esse esquema e essa ansiedade, em torno de doença e de morte, é fazer um bom trabalho terapêutico aí que te ajude a derrubar essas crenças.

A minha opinião é que você não consegue derrubar isso sozinho. Você pode levar muito tempo, mas o principal passo a ser dado por você e que nunca endereçou isso, digamos pontualmente, é começar a identificar essas crenças que estão por trás.

 

 

Mas como é que faz?

 

Não adianta! Não tem manualzinho, não tem videozinho, não tem auto ajuda… Esse trabalho é feito com a ajuda de um terapeuta. 

Anote a crença que está por trás disso:

“Algo terrivel vai acontecer” ➙ “Eu não vou conseguir impedir” ➙ “Se acontecer eu vou sofrer muito.”

São três pedaços da mesma mecânica, são três crenças da mesma mecânica que precisam ser ressignificados em terapia, com trabalho com alguém que entenda muito disso.

E basicamente o que precisa ser feito é um trabalho de aumentar a resiliência e eu acho até que isso vale um conteúdo a parte:

“Aumentar a resiliência e ressignificar as crenças”

Até a próxima.