O que é resiliência e como desenvolver?
Você não pode parar as ondas, mas pode aprender a surfar.
– Jon Kabat-Zinn
Resiliência é a nossa capacidade inata no cérebro para lidar habilmente com as decepções do dia-a-dia e eventos extraordinários.
A resiliência é fundamental para nosso bem-estar, para uma sensação de segurança e facilidade em nosso mundo.
E como essas capacidades são inatas no cérebro, integradas pela evolução, desenvolvidas e fortalecidas pela experiência, a resiliência é fundamentalmente e treinável.
Podemos desenvolver as vias neurais em nossos cérebros que nos permitem enfrentar qualquer coisa e aprender que podemos.
Resiliência é mais do que qualquer característica particular, como coragem e perseverança. Não é um traço de caráter… é uma habilidade. E, como toda habilidade, pode ser desenvolvida.
Habilidades em qualquer campo só podem ser desenvolvidas pelo esforço… não nascemos com elas… qualquer pessoa no mundo pode masterizar suas habilidades em qualquer coisa.
PONTO.
No universo do mindset, da melhora sustentável, os neurocientistas já provaram que o nosso cérebro não é fixo… ele é maleável… ele é plástico… ou seja, moldável.
Novas conexões cerebrais se formam ao repetirmos novos pensamentos, sentimentos e comportamentos.
Não depende de QI, não depende de pré-requisitos. Na verdade, pessoas emocionalmente estáveis que aprenderam a ficar estáveis podem ter um qi igual ou menor que o seu.
E quando se trata de atingir objetivos, a persistência, a curiosidade e o amor pelo processo aflora a genialidade.
Resiliência é o processo de adaptação diante de adversidades, traumas, tragédias, ameaças ou fontes significativas de estresse.
– Associação Americana de Psicologia
Este processo depende da neuroplasticidade do cérebro – também inata, que se desenvolve felizmente também ao longo da vida – para desenvolver novos neurônios, conectar esses neurônios em novas vias, para criar novos circuitos que podem apoiar de forma confiável novos padrões de resposta aos estressores da vida.
Um exemplo de neuroplasticidade:
Se você machucar o braço, rompe o tendão, por exemplo.
O braço vai perder função, certo? Quando rompe o tendão, o braço cai.
Você vai ficar um tempão com o braço caído… até operar, ou até o tendão se recuperar.
Quando o tendão rompe e você fica sem usar o braço, a área do cérebro responsável por fazer seu braço mover voluntariamente vai atrofiar… vai parar de receber estímulos e vai atrofiar.
Muito bem, quando seu tendão sara (a grosso modo, tá?) e você volta a mexer o braço devagar com o auxílio da fisioterapia, o cérebro vai recrutar uma outra área do cérebro, também do córtex motor, para ser estimulada e você voltar a mexer o braço.
Isso é neuroplasticidade!
Outro exemplo: sabe placa eletrônica de controle remoto, por exemplo?
Aquela plaquinha verde com os circuitinhos… tem umas linhas douradas que são os circuitos…
Aquilo pode ser análogo a um circuito neural. Se você for lá na plaquinha e riscar em cima da linha dourada ela vai ser interrompida e deixará de passar o impulso elétrico.
Imagine que essa linha é um caminho neural da resiliência…
Tem uma resposta gravada no cérebro de um padrão x que diz: “Leve essa informação de A a B”…
Ou no campo das emoções algo assim: “Quando uma pessoa te criticar, chore” (a grosso modo, ok?).
O trabalho terapêutico vai fazer um circuito do lado dessa linha dourada (como se fosse uma trilha paralela na mata) que a gente chama de bypass. Esse “novo circuito” vai gravar um novo padrão de resposta.
Com o tempo e muito estímulo terapêutico e da consciência vai passar a ter uma nova reação diante da crítica. O cérebro vai gravar isso e jogar para o inconsciente e isso se tornará automático.
Não importa o nível de perturbação de nosso bem-estar, podemos aprender como o cérebro desenvolve novos caminhos de resiliência e até mesmo reconfigurar caminhos antigos quando nossos padrões habituais de enfrentamento não funcionam mais tão bem.
E porque podemos aprender, porque podemos escolher as experiências que irão fortalecer esses circuitos de resiliência no cérebro, temos uma responsabilidade para com nós mesmos e as pessoas de quem gostamos em aprender a fazê-lo.
Os infortúnios são como facas, que nos cortam ou nos servem, quando os agarramos pela lâmina ou pelo cabo.
Fortalecemos nossa resiliência fortalecendo as capacidades de cinco diferentes “inteligências” no cérebro:
1. Inteligência somática: usar ferramentas baseadas no corpo de respiração, toque, movimento e visualização para restaurar o equilíbrio fisiológico de base do sistema nervoso, a faixa de resiliência do cérebro que prepara a neuroplasticidade do cérebro para aprendizagem e crescimento.
Exemplos:
- Permissão para suspirar;
- Mão no coração;
- Equanimidade para dois;
- Movendo o corpo do colapso para o fortalecimento;
- Imaginando uma conversa com um amigo compassivo;
- Banho na floresta.
2. Inteligência emocional: aprender a administrar surtos poderosos de emoções perturbadoras e cultivar as emoções positivas que antídotos contra o viés de negatividade embutido no cérebro, mudando o funcionamento do cérebro da contração e reatividade para mais receptividade e abertura. O resultado direto e mensurável de causa e efeito é a resiliência.
Exemplos:
- Quebra de autocompaixão;
- Recuperando de um ataque de vergonha;
- Compartilhando gentileza;
- Gratidão pela teia da vida;
- Saboreando o momento;
- Fazendo uma coisa assustadora por dia;
- Criando um resultado desejado;
- Descansando no bem estar.
3. Inteligência relacional dentro de nós mesmos: cultivar a autoconsciência, a autoaceitação e a auto-apreciação que recuperam a base interna segura de resiliência que é a melhor proteção que temos contra o estresse e o trauma.
Exemplos:
- Carregando amor e gratidão em sua carteira;
- Ouvir profundamente os principais pontos fortes;
- Cultivando o eu mais sábio;
- Diálogo entre o eu mais sábio e a criança interior;
- Ternura até para as partes indesejáveis;
- Encontro com o crítico interno.
4. Inteligência relacional com os outros: ser capaz de confiar em outras pessoas como refúgios e recursos quando estamos passando por tempos difíceis. Recuperar as habilidades que tornam isso possível.
Exemplos:
- Momentos de encontro;
- Monitorar o ritmo do relacionamento ressonante;
- Buscando e oferecendo ajuda;
- Criando um círculo de apoio;
- Conforto com proximidade e distância;
- Comunicação sem vergonha ou culpa.
5. Inteligência reflexiva: observar atentamente – e mudar – nossos padrões habituais de pensamento para que possamos realmente ver com clareza e escolher com sabedoria, discernindo o que pode ser uma opção sábia em qualquer situação.
- Em que história estou acreditando agora?
- Mudar cada “deveria” para um “poderia”;
- Encontrando o presente no erro;
- Mudando mentalidades inteiras.
Quando aprendemos a praticar essas habilidades pouco e frequentemente, fortalecemos nossa resiliência exatamente da maneira como o cérebro aprende melhor, pequenas experiências repetidas muitas vezes.
Podemos desenvolver novas maneiras de responder a pressões e tragédias de forma rápida, adaptativa e eficaz.
Não tenho mais medo de tempestades, pois estou aprendendo a navegar em meu navio.